PEDÁGIO: A LÓGICA ABSURDA DO EQUILÍBRIO TENDENCIOSO

Muito se tem falado ultimamente sobre o ‘equilíbrio econômico-financeiro’ dos Contratos de Concessão previstos na 2º Etapa de Concessões de Rodovias Federais, que estão sendo levadas a cabo pela Agência Nacional de Transportes Terrestres – ANTT, do Governo Federal. Em contrapartida, pouco se tem alertado aos usuários e consumidores que as cláusulas desses mesmos Contratos de Concessão fazem com que este assim chamado ‘equilíbrio econômico-financeiro’, como hoje se nos está apresentado, venham a nos impor de fato notório desequilíbrio econômico-financeiro para o lado dos usuários das rodovias pedagiadas.

Seria demais pedir que os valores de tarifas de pedágio fossem revistos anualmente através de confronto entre as reais receitas e despesas das Concessionárias? A exemplo do que faz qualquer empresa privada em mercado competitivo, respeitando-se logicamente o direito das concessionárias ao lucro, mas salvaguardando-se primeiramente o direito dos consumidores a receber serviço proporcional ao preço pago? Seria muito exigir de nossos representantes democraticamente eleitos que o confronto de contas de Receitas e Despesas fossem fiscalizados pelos órgãos oficiais de controle instituídos e pela população em geral, com a obrigatoriedade de instalação de sistema independente de contagem de veículos que passam pelas praças de pedágio?

Em primeiro lugar, os estudos de viabilidade que vieram a determinar os valores iniciais das tarifas de pedágio tratam-se de estudos estritamente financeiros. De posse de uma análise financeira, pode-se concluir somente pela capacidade de determinado projeto em se gerar recursos monetários. Uma análise econômica deveria ir além da cortina de fumaça do dinheiro e procurar determinar os valores reais que determinado projeto está inserindo ou tirando da sociedade como um todo. Assim, por respeito à Ciência Econômica, doravante irei me referir ao equilíbrio financeiro dos contratos pura e simplesmente.

Ao se ler os Contratos de Concessão propostos pela ANTT, observa-se que os reajustes dos preços das tarifas de pedágio são efetuados anual e cumulativamente através de índices econômico-financeiros, desconectados dos reais encargos das Concessionárias, sem a obrigatoriedade de que se proceda concomitantemente à manutenção do equilíbrio financeiro dos contratos. Percebe-se que tal sistemática é lesiva ao consumidor pelo fato de que se as receitas das concessionárias aumentam a cada ano, o que por sua vez tende a desequilibrar financeiramente contratos para o lado dos consumidores, não se encontrando, contudo, prevista a devida manutenção do equilíbrio financeiro desses mesmos contratos com eventual redução do valor das tarifas em respeito aos consumidores. Por outro lado, se as Concessionárias tiverem aumentados seus encargos, há as cláusulas contratuais específicas que permitem a revisão do equilíbrio financeiro dos contratos através de aumento do valor pago por tarifas cumulativamente, vez outra, aos já previstos contratualmente reajustes anuais por índices econômico-financeiros.

Este é o mecanismo ardilosamente incluído nos Contratos de Concessão para separar os aumentos de receitas das concessionárias de qualquer possibilidade de revisão dos valores da tarifas de pedágio para menos, adulterando portanto o equilíbrio financeiro dos contratos com ônus econômico para os consumidores. É este o mesmo mecanismo que faz com que os preços pagos pelas tarifas de pedágio possam até parecerem módicos nos primeiros anos de concessão, mas que ao médio e longo prazos faz com que os valores das tarifas de pedágio elevem-se a valores exorbitantes sem levar-se em conta a proporcionalidade na contrapartida em termos de serviços efetivamente prestados à população. É isso que novamente se nos estão propondo com a nova onda de concessões de Rodovias Federais, com a anuência de nossos representantes eleitos com mandato democrático para colocar o interesse publico em primeiro lugar.

Ao consumidor, dever-lhe-ia ao menos ser informado pelo que de fato está pagando quando se utiliza de rodovia pedagiada. Assustador, entretanto, é perceber que os próprios estudos de viabilidade da 2º Etapa de Concessões de Rodovias Federais prevêem que as Despesas Operacionais responderão por 43,1% do que se paga pela tarifa de pedágio, que Impostos e Tributos responderão por outros 25,0% do que se paga e que 31,9% de toda arrecadação será revertida em lucro das Concessionárias. Pasmem os Senhores e Senhoras, meus concidadãos, que somente 10% daquilo que pagamos os consumirmos as nossas estradas serão revertidos em investimentos efetivos na pista de rodagem, uma vez que os Investimentos de maior monta na pista são feitos antes das concessões, segundo a lógica tendenciosa do atual ‘modelo’ de concessões de Rodovias Federais. Reforça esta afirmação o fato de que os Trabalhos Iniciais, ou aqueles serviços que as Concessionárias são obrigadas a fazer antes da cobrança de tarifas importam em parcos 0,2% (isso mesmo, zero vírgula dois por cento) da receita bruta total ao longo dos vinte e cinco anos de concessão.

Não sou contra a busca de maior participação da iniciativa privada na prestação de serviços públicos, nem tampouco sou contra entes privados em serviço para o Estado recebem pagamento justo e proporcional aos serviços prestados incluindo-se aí o seu merecido lucro. Pelo contrário, creio que a competitividade de mercados é o mecanismo ideal para se atingir maior eficiência e eficácia na prestação desses mesmos serviços à população em geral. Todavia os atuais Contratos de Concessão como hoje se apresentam servem apenas para criar distorções severas nos mercados através da criação de monopólios privados sobre monopólios públicos naturais: nossas estradas.

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Atenciosamente,

Luiz Gustavo Packer Hintz

Membro do ‘Fórum Popular de Usuários de Rodovias Pedagiadas – PR’

Engenheiro Civil – UEL
MA – Urban Management and Development – IHS

lpackerhintz@yahoo.com
tel/fax: +43 3342 2784

AGÊNCIAS REGULADORAS - UMA SOLUÇÃO OU UM PROBLEMAS?

ASSOCIAÇÃO DOS USUÁRIOS DE RODOVIAS - ASSURCON / SERRA e RS
AGÊNCIAS REGULADORAS
Uma solução ou um problema ?

A Revista Veja e alguns jornais, neste final de semana – 25/02/07 - deram pequenas manchetes para mais um dos graves problemas deste nosso Brasil: as AGENCIAS REGULADORAS.
“Nova boquinha: um novo objeto do desejo dos partidos no rateio de cargos do governo são as diretorias das agências reguladoras – Jornal “O Sul” 25/02/07 – Jornalista Tales Faria”.
Nós usuários estamos preocupados, pois as “agências reguladoras” foram sendo criadas no Brasil dentro de um contexto em que privatizar serviços públicos demonstrava ser uma necessidade para a “modernização da administração pública”, evidência esta para os dirigentes públicos da época e que permanece viva até hoje na linha de ação de alguns partidos políticos. Assim sendo, o Poder Público em suas diferentes esferas, não teria mais ingerência direta nas áreas privatizadas, ficando as concessionárias livres para agirem sob a lei dos mercados ou seja, da “oferta e da procura”, na estrita visão do interesse comercial das mesmas, pouco olhando para a condição dos usuários, mas buscando garantir sempre o “equilíbrio econômico financeiro das concessionárias'.
Este fato é uma realidade na Lei Federal n/ 8.987 / 95 – Lei de permissões e concessões.
Tanto a referida Lei, como os contratos, mencionam a necessidade da modicidade das tarifas para os usuários, mas esta não é garantida na prática e os valores das tarifas estão várias vezes acima da inflação do período da concessão.
Buscando estabelecer um equilíbrio entre o Poder Concedente, as concessionárias e os usuários, os Governos criaram as denominadas AGÊNCIAS REGULADORAS, cabendo às mesmas, a missão de não permitir “desequilíbrios” para nenhuma das partes. Pois o que se constata em relação a estas Agências Reguladoras são graves distorções.
As regras para a composição dos Conselhos Superiores das Agências Reguladoras são um verdadeiro labirinto, conhecido de poucos. A composição que deveria ser tripartite ou seja, Poder Concedente, concessionárias e usuários, na prática é uma ficção.
Estamos diante de mais um instrumento para grupos terem garantidos e oficializados seus interesses econômicos, pouco se interessando com o que acontece socialmente em relação ao custo Brasil ou ao custo social.
Prezado leitor, ganhe um tempo para o bem da sociedade e verifique a atual composição das Agências Reguladoras. Comprove as distorções que afirmamos.
As concessionárias, amparadas em seu imenso poder econômico, sistematicamente, estão “capturando / cooptando” seus membros que ficam agindo claramente a favor dos interesses econômicos das mesmas e sob a esfera de influências nebulosas.
“Conceder mais independência às agências reguladoras” ou continuar fazendo a composição dos seus Conselhos Superiores, sem que seja realizada uma alteração na forma de indicação dos mesmos é estabelecer um governo paralelo com imenso campo para todo o tipo de ação nefasta contra a sociedade, particularmente em relação ao setor produtivo do nosso país, tendo seus membros a condição de “intocáveis”.
Tomemos como exemplo a ANAC. A sociedade clama pela demissão dos Conselheiros, todavia os mesmos são “intocáveis”.
Um verdadeiro descalabro são as agências reguladoras de rodovias.
Os empresários fazem um esforço hercúleo para tornar seus produtos competitivos com o mundo, todavia, saem da fábrica e a cada praça de pedágio vão agregando custos, limitando seu poder de competição ou até, inviabilizando sua comercialização.
É urgente a necessidade de reformulação das Agências Reguladoras, tendo como uma das questões principais, a garantia da verdadeira participação dos usuários, pois são eles que tudo pagam, além de ser rompida a estabilidade de seus Conselheiros Superiores quando ficar clara a influência das concessionárias sobre seus membros.
A liberdade de decidir das Agências Reguladoras precisa de freios, pois o Brasil, em todas as esferas de poder, se encontra subjugado pelo jogo inescrupuloso do “toma-lá-dá-cá” e da distorcida expressão de São Francisco, amigo íntimo de todo tipo de bicho e que afirma que é “dando que se recebe.”
Não existe função mais cobiçada neste país do que ser membro do Conselho Superior de uma Agência Reguladora, fazendo parte de um pequeno grupo, que decide sobre valores extratosféricos, com base em planilhas de custos apresentadas pelas concessionárias e que, na prática, simplesmente é impossível de verificar a veracidade do que consta em todos os ítens apresentados pois, de fato, o Poder concedente não fiscaliza e as Agências Reguladoras mão possuem condições de fazer o mesmo.
Na área do transporte rodoviário, as concessionárias estão impacientes para “bordarem” o país com praças de pedágios, pois não existe no Brasil negócio mais lucrativo, até os bancos já começam a arregalar os olhos e se manifestam interessados em participar do “negócio-da-china”.
Os contratos de concessão são uma indecência e a ação das concessionárias, principalmente de rodovias, deletéria para os caminhoneiros, para os usuários e especialmente para o setor produtivo do nosso país, pois a nossa economia circula sobre rodas e os custos dos pedágios existentes já são uma carga insuportável.
É um verdadeiro pesadelo para os usuários de rodovias saber que na ANTT estão em andamento concessões rodoviárias que irão favorecer os mesmos grupos econômicos que já possuem outras concessões, no mínimo por um quarto de século e que serão um verdadeiro torniquete, estrangulando a economia do país, pois o lucro das concessionárias estará garantido em contratos leoninos e com o tranqüilo respaldo das Agencias Reguladoras.
O Governo Federal precisa reavaliar esta realidade em relação às AGÊNCIAS REGULADORAS para que não se estratifique em nosso meio mais um instrumento de distorções econômicas e de manipulações políticas.
JUAREZ COLOMBO/Presidente - AGENOR BASSO/Secretário
ASSURCON/SERRA E RS